![](http://photos1.blogger.com/blogger/3580/2257/320/cemiterio%20monografia.0.jpg)
Todo mundo sabe, que o tema da minha monografia foi a História do Fotojornalismo em Salvador de 1930 á 2000. Além de entrevistar fotógrafos renomados na capital baiana, tive que ir a bibliotecas, no instituto histórico e no Arquivo Público da Bahia.
As bibliotecas e o Instituto Histórico ficam a caminho da faculdade, quase todos os ônibus que passam na porta da casa da minha avó passam por lá. O problema foi o Arquivo Público da Bahia – APB.
Só sei ir para o APB de carro – dez reais de gasolina é de lenha o bolso de qualquer estudante – e não tem ônibus direto da casa da minha avó ou da casa do meu pai que passe perto de lá. Tinha que andar quase dois quilômetros e pegar dois ônibus.
Chegava lá suado, cansado e para piorar a minha situação, perdi o meu cartão de meia passagem, eu tinha que pagar inteira.
O APB fica localizado no Bairro da Baixa de Quintas, na antiga residência do padre Antônio Vieira. Esse bairro é conhecido por ser onde Acelino Popó nasceu e á 300 metros de lá, fica uma espécie de complexos de cemitérios, cinco no total (Ordem Terceira de São Francisco, Ordem Terceira do Carmo, Quinta de São Lázaro; Cemitério Israelita e Santíssimo Sacramento).
Uma bela segunda-feira, eu fui para casa de um amigo – Bob Grilo – que mora na rua atrás da minha, para desmarcamos o que iríamos fazer naquela manhã, porque tinha que ir para o APB.
Quando cheguei na rua dele tinha gente como a zorra, incluindo ele. Eu perguntei: “O que houve Bob?”. E ele respondeu: “Um vizinho nosso que morreu e estamos esperando o ônibus para levar a gente para o enterro”.
Naquela hora passou um flash back na minha cabeça (vou andar uns 1200 metros até a Baixa do Fiscal, atravessar a linha do trem, pegar dois ônibus pra ir, mais dois pra voltar, vou gastar seis reais, vou ficar no ponto esperando, vou chegar suado...).
Eu pensei: “sabe de uma? Eu vou é no buzu do enterro, (o assento é acolchoado e ainda tem ar condincionado), falo com o pessoal lá no cemitério, desço correndo para o APB, faço que tenho que fazer e volto para pegar a extrema unção”.
Então eu fui! Quando cheguei lá, não sabia nem quem tinha morrido. Falei com um, falei com outro, vi o pessoal chorando dizendo que o finado era uma boa pessoa e sair para tomar (ou comer) água. Eu fiz o mesmo – vou ali beber água e volto.
Beber água nada! Desci correndo a ladeira e fui no APB fazer as minhas pesquisas e tirar as fotografias. Só que a primeira vez demorou um pouco, pois tive que pedir autorização da diretora de lá.
Mas Deus - como sempre - me ajudou e nesse dia o funeral atrasou como quê, só tinha um padre para encomendar as almas ele ainda estava com dor de barriga. Então eu fiz o que tinha que fazer e ainda deu tempo para voltar e ajudar a carrega o caixão (pesado como a porra) debaixo de chuva – era o mínimo que podia fazer pela carona que peguei.
Na segunda-feira seguinte, outro enterro. Pôxa! Eu não pedi para ninguém morrer, eu pedi que Deus me desse outra boleia, pegar carona não é pecado. Foram seis enterros. Não conhecia nem de nome nenhum dos desencarnados, mas o pessoal conhecia o meu pai e eu dizia: “meu pai não pôde vim e me mandou no lugar dele”.
Só sei que economizei 36 reais e a minha monografia foi aprovada.
Um abração
jp
Nenhum comentário:
Postar um comentário