27.1.06

O tempo parou em 31 de Dezembro


"Eu vi uma mulher preparando outra pessoa, O tempo parou para eu olhar para aquela barriga... O tempo não para, mas no entanto ele nunca envelhece..." Foi esta música, ou melhor, foi a interpretação desta que passou pela minha cabeça depois que ouvir Gustavo anunciar que estava esperando juntamente com Paty um bebê.

Na hora que fiquei sabendo disto, a minha mente fez uma retrospectiva "relâmpago" da minha vida com Patrícia.
- Vou levar minha cruz ao calvário - disse sr. Vivaldo
- Quem é a sua cruz meu avô? - perguntou Paty
- É todos vocês - respondeu sr. Vivaldo
- Eu também tenho minha cruz... - afirma Paty
- Quem é sua cruz minha filha? - indaga Vivaldo
- È Joãozinho...

Realmente eu fui e acho que ainda sou a cruz de Paty. Porque até quando ela voltou a morar em Salvador, vim "atrás" dela. Ela que me ensinou a comer com talheres (por conseqüência disso como com canhoto); me ensinou a escrever algumas palavras; me ensinou a gostar de MPB; de escrever; a pegar ônibus; a comprar o antigo passe escolar na Calçada; me ensinou também ser delicado, paciente e amoroso com as futuras namoradas que teria. A idéia de fazer vestibular para jornalismo foi dela....

Esta lista poderia se prolongar por mais uma, duas, três ou mais laudas, talvez não tenha nem fim, porque até hoje, continuo aprendendo com Paty. O carinho e a atenção que ela tem comigo é surpreendente. Ela se mete e intromete na minha vida mais que nossa mãe, Mercês. Paty defende-me o tempo todo.

É visível a raiva no seu olhar quando ela fica sabem que alguém me fez algo desagradável. Paty, ela não gosta de "Paty" com "y", prefere o "Pati" com "i". Mas Pati não existe mais, ela casou com Gustavo e passou a ser chamada de Papati.

Essa Papati não tem muito a ver com Pati. Ela amadureceu muito, tornou-se mais responsável, mostrou a todos o Tamanho da força de vontade que tem dentro dela, quando entrou na UFBA. E segundo Gustavo, ela agora ta até cozinhando direitinho.

A Pati que não queria que Mercês em setembro de 1978 me levasse do hospital de Brotas para casa; A Pati que me chamou de cruz; A Pati que batizou Lorena comigo; Pati com quem eu brinquei, briguei, discutir, beijei, abusei, perturbei, pirracei, gritei, ajudei, atrapalhei, chorei, me desabafei... tem agora quase trinta anos e vai ser mãe.

Mãe, MÃE, MAMÃE. Pati vai ser mãe, desculpem, PAPATI vai ser mãe, vai dá uma linda criança sadia, para Gustavo, vai dá o primeiro neto para Mercês, mais um neto para seu Zeca, o primeiro Bisneto para Dos Anjos e Vivaldo, vai me dá um sobrinho... Resumindo, Dona Inês vai ter mais um girassol no seu jardim que irá alegrar duas famílias.

Naquele momento, vi Daniel (o irmão de Gustavo) brincando com seus primos. Tinha crianças de varias idades. Daniel deve ter uns catorze anos, tinha mais duas garotinhas com cerca de dez, onze anos. Tinha também dois lindos bebês e um lindo casalzinho que me fez recordar a minha infância com a antiga Pati.

Aí minha cabeça começou a comparar a diferença de idade com as crianças de Dona Inês, com a diferença de idade dos meus tios para comigo. Não é que eu me lembre de onde eu estava quando tinha dez meses ou dez anos. Mas quando eu tinha dez meses, Toninho devia está na faculdade de odontologia e hoje eu estou com vinte e cinco anos e ele com quarenta e seis (ele formado e eu na faculdade).

Quando nasci Mercês tinha vinte e sete anos, hoje ela está com cinqüenta e dois, Papati hoje tem vinte e oito... Desta maneira comparei a minha idade agora, com a idade dos meus tios quando eu tinha a idade das crianças que ilustravam o reveillon da casa de D. Inês.

Aí me bateu uma vontade de chorar, primeiro por causa de ver Papati chorando, depois por ver os olhos da platéia feminina cheios de lagrimas e também, pela emoção de saber que vou ser tio (tio eu já sou, mas dessa vez vou ser tio do neto da minha mãe e serei um tio presente).

"O tempo não pára", cazuza disse isso há quase vinte anos e antes disso, Caetano afirmou que "o tempo não pára e, no entanto ele nunca envelhece". Verdadeira mentira. Não é possível ter pensado, repensado, meditado, imaginado tanta coisa em segundos.

Mas realmente o tempo não envelhece, nós é que envelhecemos. Qualquer um pode me chamar de lerdo, abestalhado ou qualquer outro adjetivo sinônimo a estes, mas só agora que vi que não somos mais crianças.

Agora temos que ter responsabilidade, construir nossas famílias, crescer intelectualmente e culturalmente, construir a base para sermos grandes pessoas, pessoas de bem. Eh! 2003 acabou, isso quer dizer que todos nós temos agora mais um ano para enfrentar, que estamos ficando mais velhos.

A idéia de envelhecer não me preocupar pelo fato de conciliar a velhice a morte, (porque na escola, aprendemos que o circulo da vida é nascer, crescer, procriar, envelhecer, morrer e durante toda a vida, se alimentar). Cientificamente isto está correto. Porém esquecemos de algo que está na nossa cara, podemos abandonar a vida terrestre a qualquer momento, é claro que queremos que isso seja mais tarde possível.

Mas quero lembrar que no Japão, vinte dois mil japoneses têm mais que cem anos de vida). Mas sim por ver que passamos por mais uma fase da vida e ter refletido e visto que desperdicei muito tempo. Poderia ter estudado mais, viajado mais, namorado mais, beijado mais... sabem aquela música dos Titãs? Epitáfio? É mais ou menos isso que eu quero fazer este ano.

Porque este ano eu vou ganhar um presentão de Gu e Papati, e quero ser o melhor tio para o Dom Pedro (eh, se César tem o Rei ARTUR, tem que tem IMPERADOR Dom Pedro) ou Laura, ou quem sabe, para os dois. Eu espero que esse bebê de Paty nasça com muita saúde, não importa de que sexo - mas Paty, Mercês e Deus sabem a minha preferência por menina. Sei que ser o melhor tio vai ser difícil, porque tenho na concorrência Aquino, Davi, César, Henrique, Murilo e Silvio.

Ainda bem que não concorro a melhor tia, pois disputar com Itana é impossível. A noite terminou com a imagem do velho Tanajura na minha mente. Não aquela imagem pintada na sala da casa de Dona Inês, mas a imagem real do seu olhar carinhoso e singelo, transmitindo paz, alegria e harmonia para todos os presentes daquele dia.

Aí, pude dormir em paz, porque pelo menos ele, eu tenho certeza que me entendeu...
jp

P.S (O original desse texto foi escrito no dia 31/12/03, ele foi corrigido 28/12/2005, parágrafos, personagens e algumas histórias foram excluída dele por causa da desatualização).