13.2.07

Muito Obrigado Felix!!!!

No texto da capa do cd de Caetano Veloso “Omaggio a Federico e Giulieta”, o cantor baiano fala que tanto ele quanto a irmã de Federico, Maddalena Fellini “deplorava que o casal tivesse morrido sem que um encontro pessoal ... tivesse sido concedido pelo acaso, o destino, deus, os deuses”.

“Feliximente” os deuses do Candomblé fizeram com que Anízio Carvalho, me convidasse para o seu aniversário e me apresentasse á Anísio Felix.

Meu primeiro encontro com essa maravilhosa figura, Felix, que nos deixou fisicamente no dia 27 de janeiro, foi repleto de brincadeiras.

Estava entre dois consagrados jornalistas do Jornal da Bahia, Anísio Felix e o Anízio Carvalho. Não sei nem se na época eu tinha noção de com quem eu estava, pois ambos são de uma extrema humildade para o currículo que possuem.

Lembro-me que quando cheguei à casa de Carvalho, ele me apresentou a Felix dizendo:

– Anísio, esse é um jovem estudante de jornalismo.
Felix me olhou com ar irônico e disse:
– Meus pêsames meu querido.
Não deu outra, cair na risada. E perguntei se ele não gostava de jornalismo, ele me respondeu com o mesmo ar irônico, que depois de 50 anos de profissão passou a gostar. Eu perguntei então se ele queria ter outra profissão, ele disse que não, que tinha nascido para ser jornalista.

Conversamos durante horas, onde tive o privilégio de ouvir muitas histórias do Jornal da Bahia. Inclusive o dia em que Carvalho e Felix foram cobrir a chegada de um disco-voador em um terreiro de uma seita aqui na Bahia. Como a espaço-nave não apareceu, os membros da seita disseram que a culpa foi da imprensa que estava no local, pois os “marcianos” tinham dito que não queriam a presença de jornalistas no local. Segundo Felix, Carvalho conseguiu fugir, mas ele acabou apanhando dos seguidores.

Outra história que ele contou, foi um de um gaiato que entrou no bloco dos filhos de Gandhy acompanhado de amigos e das suas respectivas mulheres. Um dos diretores pediu para que Felix explicasse ao cara que o bloco tradicionalmente, só sai homens e que se abrisse mão para um, abriria para todos. O cara disse que não sairia que ele era jornalista da rede Globo e que estava a serviço. Felix se aproximou, mandou-o enfiar o crachá naquele “orifício” e perguntou se ele queria uma manchete com o titulo “jornalista da Globo tenta quebrar tradição do maior Afoxé do Brasil”. “Natoramente”, eles saíram do bloco.

Felix também falou de coisas sérias que acontecem no jornalismo no Brasil, como a política editorial, que dita o que temos que escrever; as perseguições e ameaças aos jornalistas e a mania que os jornais e revista possuem de pedir textos por medidas. “Quero um texto com 10.000 toques, 5.630 toques”. O texto, segundo ele, tem que ter todas as idéias e pensamentos do jornalista,livre de medidas, pois "o que é medido são metros, fios, tubos, arroz, farinha, pão"...

Antes de ir embora, Felix me aconselhou a estudar sempre, (pois aos 69 anos ele se formou em direito), procurando ser o melhor, o melhor para mim e não para os outros. Saber de tudo o que acontece não só na minha terra, mas em todo mundo. Não esquecendo que o jornalista tem o dever defender a verdade.

Sinto em não ter encontrado para entrevista-lo no meu projeto experimental; Sinto em não tê-lo encontrado mais uma vez, nem que fosse por obra do acaso, sinto em não ter ido visitá-lo em sua casa no Rio, quando ele me convidou. Sinto por termos perdido um jornalista independente. Mas fico feliz, pois Felix existiu.

Fica com Deus meu Querido e até logo.

jp